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Desabafos: Eu vi a luz

Portugal é, de facto, um país com muita luz. Quem o diz são os milhares de estrangeiros que nos visitam e não se cansam de elogiar a nossa luminosidade. Como se não bastasse esse dom natural com que fomos bafejados, o Sr. Luís Filipe Vieira também viu a luz e o nosso Presidente Professor Dr. Marcelo Rebelo de Sousa viu a (mesma?) luz no Panamá, luz essa que o motivou a pensar recandidatar-se a novo mandato.
Quem deve estar a rebolar-se de contente é a EDP, porque tanta luz paga-se (e não é pouco). Quanto ao país, esse, anda a ver se vislumbra a luz ao fundo do túnel, na esperança que essa mesma luz não seja a de um comboio em sentido contrário. Comboio que vindo nos carris de bitola ibérica, nos alugam por um balúrdio, os ‘nuestros hermanos’. Haja luz...

O nome das coisas
Os animais estão, justa e finalmente, a ser protegidos pela lei (às vezes mais do que certos seres humanos). Quem leva para casa um cão ou gato, já não leva um Piloto ou um Farrusco, uma Faísca ou um Corisco. Quem leva um animal para casa, leva um José Maria ou um Acácio, um Aníbal ou uma Amélia.
Os humanos, por seu turno, já acham obsoleto dar aos seus filhos nomes como João e Maria, José ou Joana e ser mais próprio chamar-lhes Kenzo ou Alana, Cloé ou Toni...
Já lá vai o tempo em que aqueles dois emigrantes no Brasil, no fim de um dia de trabalho, desabafavam:
- Estes brasileiros estão sempre a gozar-nos a dizer que nós lá em Portugal somos todos Jaquins e Maneis. Mas nós não somos todos Jaquins e Maneis, pois não Jaquim?
- Pois não Manel...

Exaustão
O país está à beira da exaustão.
Médicos, enfermeiros, professores, bombeiros, todos estão exaustos. Guardas prisionais, polícias, funcionários públicos, todos a cair para o lado. Camionistas, estivadores, pescadores, não podem com ‘uma gata pelo rabo’ (salvo seja e com o pedido de desculpa ao sr. deputado do PAN). Até os políticos, coitados, parecem estar exaustos e marcam presenças fantasma para desanuviar a cabeça de tanta exaustão.
Qualquer dia o país entra em exaustão e que trabalhem os reformados para justificarem as chorudas reformas e que são os únicos que estão a descansar depois de uma vida de trabalho. Bem dizia o meu amigo alentejano, penso logo... exausto.

Os espelhos não enganam
Poucos são aqueles que realmente acreditam estar mais velhos. Todos os dias nos pomos em frente do espelho, para nos barbearmos, lavar os dentes ou simplesmente para nos pentear e de modo nenhum parecemos mais velhos do que no dia anterior. O mal é que nos vemos todos os dias é por isso não notamos as transformações que em nós se operam. Também as pessoas com quem lidamos diariamente pouco envelhecem.
A realidade (essa não perdoa) é que quando vamos a um local onde não íamos à muito, reparamos nos nossos amigos e conhecidos e pensamos "como está velho o Joaquim", "o filho da Alice está um homem, ainda à pouco andava com ele ao colo e agora está um matulão", "como está acabada a Margarida, coitada". Nós, porém, não estamos velhos nem acabados, nós continuamos como sempre.
E, mais um dia de manhã nos miramos ao espelho e não notamos naquele cabelo branco que há um ano era preto, nas rugas que o passar dos dias foi aprofundando. Não notamos que estamos um dia mais velhos do que ontem, porque afinal a diferença não é assim tão grande.
Os outros é que envelhecem. Co's diabos, os espelhos não enganam.

João Henrique Farinha