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Carlos Bunga inaugura em Madrid exposição 'Contra a Extravagância do Desejo'

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O Museu Rainha Sofia inaugura na sexta-feira em Madrid a exposição 'Contra a Extravagância do Desejo' que o autor, Carlos Bunga, que viveu mais de dez anos no concelho da Lourinhã, considera ser “um convite a pensar” sobre a “dualidade” do momento.

O artista português, de origem angolana, apresentou hoje a sua nova instalação, criada especificamente para ser exposta, até 4 de Setembro próximo, no Palácio de Cristal do Parque do Retiro, no centro da capital espanhola.

'Contra a Extravagância do Desejo’ uma atitude de resistência a todas as coisas materiais que nos rodeiam e nos alienam cada vez mais da essência espiritual que deve prevalecer nas nossas vidas”, afirmou Carlos Bunga, em conferência de imprensa, ao lado do director do Museu Rainha Sofia, Manuel Borja-Villel.

O artista, que iniciou a sua carreira como pintor, dispensou, para criar esta obra, materiais tradicionais e optou pela “precariedade de estruturas” compostas, neste caso, apenas por folhas de cartão e fita adesiva.

A estrutura de cartão que compõe a instalação apresentada “confunde-se”, segundo ele, com o edifício de ferro e vidro que o acolhe, dando origem a um "ambiente híbrido e mutável".

Esta obra é performativa e está em processo de transformação […] e não sei o que lhe vai acontecer até Setembro”, quando a exposição terminar, explicou Carlos Bunga, acrescentando que “tudo pode acontecer, visto ter sido criada para o espaço do Palácio de Cristal e não para um outro”.

Trata-se de uma obra “aberta a interpretações”, “aberta às transformações” e “uma metáfora daquilo que é a própria vida”, visto que “ninguém sabe a data da sua morte”.

A obra é uma mensagem a todas as pessoas obrigadas a deixar a sua casa, a deixar o seu país e obrigadas a ser nómadas e refugiados” e “retrata a luta entre o que é permanente e o que não é permanente”, disse o artista.

Carlos Bunga deu o exemplo da sua mãe que foi “forçada a fugir” com uma filha de dois anos do seu país, Angola, numa altura em que estava grávida.

Segundo o comunicado de imprensa distribuído, a família de Bunga fez parte do êxodo de refugiados na sequência da guerra de independência angolana (1961-1975), tendo sido acolhida em Portugal graças aos corredores aéreos humanitários organizados pela Cruz Vermelha.

Depois de passarem algum tempo em dois centros de acolhimento no Porto, a família e outros refugiados foram transferidos para casas prefabricadas, em 1983, feitas para famílias portuguesas com poucos recursos, bem como para “uma pequena percentagem” de refugiados angolanos.

Os materiais perecíveis destes edifícios levaram à sua deterioração quase imediata, o que logo resultou na sua demolição devido a condições de vida inaceitáveis.

Mesmo assim, Carlos Bunga sublinhou que não gosta da palavra “destruir” e que prefere ver os materiais como um “processo de transformação” ou, dito de outra forma, “um processo que faz parte da vida”.

O artista afirmou que aprendeu a “adaptar-se a estes espaços transitórios” e esta forma de se relacionar com o mundo, o que faz com que também se sinta “nómada na sua forma de pensar, mas também na sua forma de ser e de estar”.

O director do Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, Manuel Borja-Villel, salientou que a instalação “funciona muito bem” com o estilo arquitectónico do Palácio de Cristal, tendo considerado que o artista “fez uma peça extraordinária” que “reflecte uma sociedade que está em movimento”.

O trabalho de Carlos Bunga tem sido exposto em diversos museus e centros de arte internacionais, como o Museu de Serralves, no Porto (2012), o Museu Universitário de Arte Contemporâneo na Cidade do México (2013), o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, o Museu Haus Konstruktiv em Zurique (2015), o Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia de Lisboa (MAAT, 2019), a Whitechapel Gallery em Londres (2020) e a Secessão em Viena (2021).

Carlos Bunga formou-se na Escola Superior de Artes e Design, nas Caldas da Rainha, estudou em Nova Iorque e venceu o prémio EDP Novos Artistas em 2003.

Texto: ALVORADA com agência Lusa
Fotografia: Direitos Reservados