Modelos de esperança
- Categoria: Editorial
«No íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança». (1 Pe 3, 15) O Papa Francisco convida-nos a viver este Jubileu como peregrinos da Esperança. S. Pedro afirma com clareza qual é o caminho que aqueles que vivem pela fé em Jesus devem percorrer. A Esperança é a virtude pela qual o próprio Deus nos concede a graça de olhar para Si, para que a nossa existência tenha sentido pleno. Jesus é a Palavra Viva do Pai que responde aos anseios mais profundos do coração do homem.
O Concílio Vaticano II na Constituição Dogmática Gaudium et Spes, sobre a Igreja no mundo actual, formula esta verdade com uma beleza imensa: “Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente. Adão, o primeiro homem, era efectivamente figura do futuro, isto é, de Cristo Senhor. Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime.” (GS 22) É providencial aprender o alcance destas palavras. Nós precisamos de Jesus. N’Ele encontramos a sabedoria que ilumina a vida e ensina a descobrir novos horizontes de esperança.
Os santos são aqueles em quem esta verdade é manifesta, exemplos de como a Graça de Deus oferecida em Jesus faz maravilhas. Ao longo do ano, a Igreja preenche o calendário com modelos de santidade, celebra a santidade de Deus neles presente e actuante para que pela nossa devoção desejemos que em nós o mesmo possa acontecer. É belíssimo perceber que quem viveu pela fé, não está condenado ao esquecimento pela sua natureza mortal, porque participam da Páscoa de Jesus. Estão vivos no Céu e assim próximos de nós.
Janeiro é marcado pela celebração de alguns de grande devoção popular, às vezes pouco esclarecida, mas cuja vida continua a ser motivo de festa. S. Amaro (morreu em 584) e S. Antão (morreu em 356) celebrados a 15 e 17 de janeiro, respectivamente, são dois homens que responderam ao chamamento de Jesus e levaram uma vida simples e austera, o primeiro num mosteiro e o segundo na solidão do deserto. Tinham uma intimidade tão profunda com Jesus que muitos outros quiseram partilhar a mesma experiência. Apesar dos constantes sofrimentos, perseguições e provações a sua vida era completa em Cristo e, por isso, a podiam dar aos outros. De facto, «a sua esperança estava cheia de imortalidade». (Sab 3, 4b)
S. Sebastião (20 de janeiro), S. Inês (21 de janeiro) e S. Vicente (22 de janeiro) são três mártires do fim do século III início do IV, cuja memória e devoção permanece viva e actual. Sebastião o santo invocado como protector contra a fome, a peste e a guerra era o chefe da guarda do imperador, este ao saber que era cristão e anunciava Jesus aos condenados, manda-o matar por não renunciar à sua fé. É dele a célebre afirmação que lhe alcançou terríveis sofrimentos: “Deve-se obedecer antes a Deus que aos homens!” Foi martirizado duas vezes sofrendo as mais cruéis atrocidades que enfrentou com a serenidade de quem vivendo ainda na terra já pertence definitivamente ao céu. Nele se cumpre a palavra de quem experimenta «a esperança, para além do que se podia esperar.» (Rm 4, 18)
A pequena Inês, virgem e mártir, preferiu a morte a ser dada ao filho de perfeito da cidade de Roma. A castidade era para esta jovem de 13 anos o sentido da sua vida, uma vez que se tinha consagrado inteiramente a Jesus. Só dele seria o seu corpo porque era este Amor que a fazia viver. Extraordinária fortaleza desta cordeira (significado do nome Inês) que em tenra idade nada mais desejava e esperava que a santidade.
O diácono Vicente, vivia um zelo belíssimo pelo anúncio do Evangelho e pela prática da caridade para com os mais pobres em nome de Jesus. Para servir de exemplo ao povo de Saragoça, o governador fê-lo padecer sucessivos tormentos até que renegasse a sua fé em Cristo e sua pertença à Igreja. Mas a verdade é que ele foi vencedor (significado do nome Vicente) porque esteve sempre em profunda união com o Vencedor, Senhor e razão da sua vida em quem colocava toda a esperança.
Modelos de esperança porque viviam unidos ao Senhor da história e n’Ele ao Deus fonte eterna do Amor e da felicidade. Já passaram tantos séculos, mas a Luz que neles brilhou ainda hoje brilha para nós.