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O perdão das dívidas!

A oração do “Pai Nosso” é um dom maravilhoso de Jesus a todos aqueles que desejam estar na intimidade de Deus e viver animados pelo seu Amor. São Cipriano de Cartago afirma com propriedade e espanto: “Que grande indulgência e que imensa bondade do Senhor para connosco! Ele quis que ofereçamos a nossa prece a Deus dando-lhe o nome de Pai. E tal como Cristo é Filho de Deus, ele quis que também nós tivéssemos o nome de filhos de Deus. Este nome, ninguém de entre nós ousaria pretendê-lo na oração se ele próprio não o tivesse concedido”.

Uma das graças que Jesus nos ensina a pedir ao Pai é a de vivermos a experiência do perdão, porque é sempre esse Amor incondicional e gratuito que n’Ele encontramos, e a partir do qual a nossa vida se renova. A verdade é que só o perdão nos permite recomeçar livres da escravidão do mal que fizemos e das ofensas que sofremos. Mais do que uma simples desculpabilização em que perdura um sentimento de dívida e de devedor, o perdão gera memória de gratidão pela vitória do amor sobre o mal. Essa é novidade que nos conduz a uma existência feliz por nos sabermos curados e onde sempre podemos encontrar o remédio.

Esta sabedoria encontramo-la plenamente realizada e oferecida em Jesus o Filho de Deus, nascido no presépio de Belém e morto no alto de uma cruz em Jerusalém. Toda a sua vida é uma proclamação belíssima de como o Amor de Deus é sempre maior que o mal. Santo Agostinho chega mesmo a afirmar que Deus não cessa de se fazer devedor ao homem: «Como “eterna é a vossa misericórdia, dignais-vos, pelas vossas promessas, tornar-vos devedor daqueles a quem perdoais todas as dívidas».

O Jubileu dos 2025 anos da Encarnação e do Nascimento de Jesus é um chamamento de, à luz da Sagrada Escritura (livro do Deuteronómio 15,1-3), vivermos a experiência providencial do perdão das dívidas. Nas palavras do Papa Francisco, “o Jubileu é um acontecimento que nos impele a procurar a justiça libertadora de Deus em toda a terra”. A justiça humana fundada na premissa da retribuição (do bem a quem o praticou e do mal a quem o fez), e na responsabilização individual pelos actos praticados, pode olhar com desconfiança para este convite da Palavra divina, mas a verdade é qualquer ‘pessoa de bem’ deseja que o bem vença, e quem fez mal se possa arrepender.

É nesta luz que se compreende a interpelação do Papa Francisco, “da redução, se não mesmo no perdão total da dívida internacional, que pesa sobre o destino de muitas nações” porque “aqueles que empreenderem, através dos gestos propostos, o caminho da esperança, poderão ver cada vez mais próximo a tão desejada meta da paz”. Também pelo Cardeal Dom Américo nas circunstâncias concretas da sua diocese anunciou o perdão das dívidas pessoais, e entregou na Assembleia da República aos nossos governantes uma carta pedindo “que possam refletir e equacionar uma amnistia no contexto deste Jubileu Universal e dos 50 anos da democracia”.

O Ano Jubilar é para todos uma oportunidade a vivermos a novidade do Amor de Deus. A graça do perdão fundamenta-se nesta mesma certeza de um Amor que nos ensina a viver na Esperança de que no meio das misérias de tanto mal é possível encontrar novos caminhos de bem. Uns com os outros e todos a partir de Deus.

Neste sentido são inspiradoras as palavras do Papa Francisco no Dia Mundial da Paz de 2025: “Procuremos a verdadeira paz, que é dada por Deus a um coração desarmado: um coração que não se esforça por calcular o que é meu e o que é teu; um coração que dissolve o egoísmo para se dispor a ir ao encontro dos outros; um coração que não hesita em reconhecer-se devedor de Deus e que, por isso, está pronto para perdoar as dívidas que oprimem o próximo; um coração que supera o desânimo em relação ao futuro com a esperança de que cada pessoa é um bem para este mundo”.

Aproveitemos este Jubileu para aprendermos os caminhos novos de uma existência animada pelo desejo sincero e o compromisso efectivo de querermos o bem dos outros e a sua felicidade. A verdade é que assim a vida vale imensamente mais!

Pe. Ricardo Franco
Edição 1382 - 10 de Janeiro de 2025