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25 Abril: Presidente da Conferência Episcopal alerta que "ideal de Abril" ainda tem metas a alcançar

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O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) admitiu hoje que o “ideal de Abril” permanece ainda, “em muitos aspectos, como meta a alcançar”, mas sublinhou o caminho percorrido na construção de um país “baseado nos valores de dignidade”.

Tal como hoje, há 48 anos, o episcopado português estava reunido em Fátima, em reunião magna, quando aconteceu a revolução. Hoje, na abertura dos trabalhos da Assembleia Plenária que decorre até quinta-feira, o bispo José Ornelas disse que o 25 de Abril “significou uma mudança fundamental de rumo” de Portugal. “Iniciamos esta Assembleia no dia celebrativo do 48.º aniversário do 25 de Abril, que significou uma mudança fundamental de rumo do nosso país e dos outros países que estavam a nós ligados em atitude de submissão e revolta e que hoje são nossos parceiros por convicção e interesse mútuo, na criação de um mundo de dignidade e de colaboração entre os diferentes povos desta terra”, afirmou o presidente da CEP e Bispo de Leiria-Fátima.

Para D. José Ornelas, “embora o ideal de Abril permaneça ainda, em muitos aspectos, como meta a alcançar, é importante sublinhar os passos dados na construção de um país baseado nos valores da dignidade e da abertura sem preconceitos aos outros povos e culturas, como terreno sólido para colaborar na construção de um futuro de real fraternidade, solidariedade e paz para toda a humanidade”.

Na ocasião, o prelado elencou os principais temas que vão marcar a reunião que hoje começou, referindo, em especial, a próxima Jornada Mundial da Juventude, a realizar em Lisboa entre 1 e 6 de Agosto do próximo ano e que terá a presença do Papa. “Apesar das dificuldades da situação mundial, esperamos que este evento, que está a ser preparado em diálogo e com o contributo do Governo e das Câmaras de Lisboa e de Loures, possa ser um momento especial de encontro mundial da juventude, organizado pela Igreja Católica e aberto aos jovens de todas as opções religiosas”, disse D. José Ornelas.

Segundo o presidente da CEP, “entrou numa nova fase a preparação do acolhimento dos jovens nas paróquias e instituições da Igreja e de outras entidades”, por forma a que os jovens que vierem a Portugal – são esperados mais de um milhão de todo o mundo -, “possam apreciar a hospitalidade do povo português e participar num evento que fortaleça o diálogo intercultural sem fronteiras para a criação de um mundo mais fraterno, solidário e em paz”.

Também o processo sinodal em curso, que terminará com a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, em Roma, em Outubro de 2023, será debatido nesta reunião em Fátima, que decorre num tempo “onde se adensam nuvens de guerra, de luto e terror, de preocupações para o futuro”, embora seja também “tempo de iniciativas que buscam inverter processos de exploração e injustiça, curar feridas, atender a necessidades gritantes, lançar pontes de solidariedade, acender a chama transformadora da esperança”, como afirmou o presidente da Conferência Episcopal. “Falar de esperança quando tudo corre bem não é difícil. Traçar percursos concretos que gerem esperança é aquilo que caracteriza os profetas e os verdadeiros revolucionários”, concluiu.

CEP reafirma “pedido de perdão” às vítimas de abuso na Igreja

O presidente da CEP reafirmou hoje “o pedido de perdão, em nome da Igreja Católica” às vítimas de abuso no seu seio, e o “empenho em ajudar a sarar as feridas”.

“Às pessoas que passaram pela dramática situação do abuso reafirmamos o nosso pedido de perdão, em nome da Igreja Católica, e o nosso empenho em ajudar a sarar as feridas. Queremos deixar também uma palavra de profunda gratidão a quem já se aproximou para contar a sua dura história, superando compreensíveis resistências interiores, marcadas certamente por feridas profundas”, disse José Ornelas, também Bispo de Leiria-Fátima.

Ao falar na abertura dos trabalhos da Assembleia Plenária da CEP, que hoje começou em Fátima, Ornelas deixou ainda uma palavra de encorajamento aos que “ainda procuram o momento mais apropriado para se referirem ao que nunca devia ter acontecido nas suas vidas, para que o façam”. “Estamos convosco: acompanhamos-vos na vossa dor, queremos ajudar a repará-la e tudo faremos para prevenir situações como as que tiveram de enfrentar”, acrescentou, garantindo que “este tema não está encerrado e terá um lugar de destaque nos trabalhos” da Assembleia Plenária, “exigindo acompanhamento activo e cuidado para pôr em prática processos e atitudes que defendam a integridade, a dignidade e o futuro de todas as pessoas, particularmente as crianças e aqueles que se encontram em situação de fragilidade, na Igreja e na sociedade”. “Como Igreja, sentimos o imperativo do Evangelho que anunciamos e que implica a promoção de uma cultura de respeito e dignidade que favoreça o são desenvolvimento de cada pessoa e ajude a sarar as feridas que permaneçam abertas”, frisou.

Na ocasião, D. José Ornelas destacou o trabalho feito pela Igreja Católica em Portugal, desde que em 2019 o Papa Francisco publicou a Carta Apostólica “Vos estis lux mundi” (Vós sois a luz do mundo): “entre 2019 e 2020 todas as dioceses criaram as respectivas Comissões Diocesanas de Protecção de Menores e, em Fevereiro de 2022, foi constituída uma Coordenação Nacional destas mesmas Comissões, para implementar procedimentos, orientações e esclarecimentos que possibilitem um melhor e mais articulado trabalho de todos”. “Paralelamente, e por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa, foi criada uma Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa, com o objectivo prioritário de realizar um estudo que vise o apuramento histórico desta questão, assim como o de criar uma estrutura de ‘escuta’ a nível nacional”, acrescentou.

No dia 12 de Abril, a comissão independente criada em Janeiro para investigar abusos sexuais na Igreja Católica portuguesa revelou que já recebeu 290 testemunhos válidos de vítimas e 16 casos já foram remetidos ao Ministério Público. Na ocasião, o coordenador da comissão, Pedro Strecht, afirmou que os primeiros meses de trabalho permitiram já confirmar que “houve, no passado, múltiplos casos de abuso sexual” e destacou a posição de fragilidade das vítimas que as levou, na maioria dos casos, a não denunciar atempadamente os crimes.

Quanto aos agressores, a comissão não apontou números concretos, mas admitiu que a maioria dos abusos foi cometida por pessoas directamente ligadas à Igreja Católica. Por outro lado, Pedro Strecht reconheceu que já foi possível identificar situações de ocultação ou encobrimento, incluindo por parte de bispos que continuam no activo. A metodologia de acesso aos arquivos diocesanos pela comissão liderada por Pedro Strecht deverá ficar definida na reunião que hoje se iniciou em Fátima.

Ucrânia: Sofrimento das vítimas “não pode ser em vão”

O presidente da CEP) defendeu também que “o sofrimento das vítimas” da guerra na Ucrânia “não pode ser em vão, mas deve conduzir ao reforço das instituições internacionais”. D. José Ornelas considerou que “todos os povos têm direito a lutar pela sua autodeterminação e a ambição cega de um regime não pode coartar ou beliscar esse direito, muito menos invocando razões históricas ou até religiosas”.

“O tempo que vivemos é muito desafiador e exige de todos nós um grande sentido de responsabilidade. Aos poderes públicos exige-se competência: para travar a guerra, para encontrar soluções duradouras de paz e para gizar políticas que ajudem as populações a ultrapassarem os constrangimentos de uma economia de guerra e a viver com dignidade e paz”, disse o também Bispo de Leiria-Fátima.

Para o prelado, “esta guerra não atinge apenas a Ucrânia, mas tem consequências sérias em todo o mundo, agravando as dificuldades económicas e sociais provocadas por dois anos de pandemia”. “Se é verdade que a situação pandémica conhece melhorias, requerendo atenção constante, já os efeitos da guerra, com a escassez de produtos, a subida dos preços e a progressiva tensão política internacional, estão a provocar o agravamento das condições de vida sobretudo das pessoas e famílias que dispõem de menores recursos”, enfatizou D. José Ornelas, defendendo que “o sofrimento das vítimas desta guerra não pode ser em vão, mas deve conduzir ao reforço das instituições internacionais com real capacidade de mediação e de promoção de uma humanidade baseada na justiça, na dignidade e na paz de um Direito Internacional que a humanidade ainda não conseguiu implementar”.

Apelidando o conflito na Ucrânia de “bárbara e incompreensível guerra (…), com consequências de trauma, destruição e morte para a população ucraniana e com consequências gravíssimas para toda a humanidade”, o presidente da CEP aproveitou a ocasião para expressar “ao povo da Ucrânia a solidariedade, proximidade e oração da Igreja em Portugal”.

O Bispo louvou ainda todo o apoio dado aos refugiados ucranianos, mas considerou necessário, “tanto da parte do Governo como das instituições civis e religiosas, um reforço de atenção e coordenação, para evitar o perigo de aproveitamentos ilícitos das pessoas vulneráveis e para encontrar os meios mais adequados às necessidades do povo ucraniano".

O presidente da CEP aludiu ainda à consagração da Ucrânia e da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, realizada por iniciativa do Papa Francisco, simultaneamente em Roma e em Fátima, no dia 25 de Março, considerando-a “expressão dos sentimentos de solidariedade e esperança activa na superação desta brutal agressão, assim como da continuidade da generosa assistência aos que são vítimas dela”.

Os bispos portugueses estão reunidos em Assembleia Plenária na Casa de Nossa Senhora das Dores, no Santuário de Fátima, até à próxima quinta-feira. Na ordem de trabalhos, constam, entre outros temas, a aprovação dos documentos “Itinerário de iniciação à vida cristã com as famílias, crianças e adolescentes”, “Ministérios laicais numa Igreja ministerial” e alterações à “Instrução sobre o direito de cada pessoa a proteger a própria intimidade”, bem como a metodologia de acesso aos arquivos diocesanos por parte da comissão independente criada para o estudo dos abusos sexuais no seio da Igreja Católica e a Jornada Mundial da Juventude do próximo ano, em Lisboa.

Texto: ALVORADA com agência Lusa