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DIÁSPORA-COVID-19: testemunho de Paula Pereira, dos Casais de Porto Dinheiro, que reside no Canadá

Ontario Paula Pereira

Como está a viver a Diáspora da Lourinhã este novo tempo, em que o centro das atenções é a pandemia da Covid-19? O ALVORADA iniciou a partilha de testemunhos de vida dos emigrantes lourinhanenses que se encontram espalhados pelos quatro cantos do mundo.

Neste tempo difícil que todos atravessamos, com uma pandemia que reduz ao máximo o contacto entre todos, queremos desta forma manter bem vivo o que nos une. Queremos contribuir para que quem esteja longe, fique mais perto de nós, na Lourinhã.

Partilhe e, caso tenha algum familiar e amigo que queira que o contactemos, para aqui deixar o seu testemunho, envie-nos mensagem pelo nosso Facebook ou para o endereço electrónico Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar..

Fique em segurança. Cuide de si e dos outros!

Este 15º testemunho é de Paula Pereira, de Ribamar, que reside no Canadá:

Olá

O meu nome é Paula Pereira. Sou luso-canadiana, tenho 56 anos de idade.

Sou do concelho da Lourinhã, cresci no lugar dos Casais Porto Dinheiro, que pertence à freguesia de Santa Bárbara. Casais Porto Dinheiro é a terra do meu pai e minha mãe tem as suas raízes em Ribamar.

Em Dezembro de 1984, com 21 anos, emigrei para Toronto, no Canadá, à procura de um futuro mais risonho, sem nunca esquecer a aldeia Natal.

Em Toronto conheci meu marido, um jovem da Cova da Beira, natural do concelho do Fundão, de uma pequena aldeia chamada Enxabarda, onde as suas gentes são pessoas maravilhosas. Casei em Maio de 1987 e fiquei a morar em Toronto por alguns anos, onde ainda nasceu o meu filho, que tem também cidadania portuguesa.

O meu marido trabalhava por conta própria no sector de reparações em equipamentos de hotelaria (restaurantes, pizarias e padarias).

Vivemos há 23 anos no Town de Innisfil, Ontario, que fica a 74 km a norte de Toronto. Durante anos trabalhei a 30 km de casa, numa linha de montagem de bancos de automóveis. No dia-a-dia ‘luta-se’ sempre a pensar na chegada do Verão e ir ao nosso querido Portugal. Com a Primavera a chegar, é de repente, num abrir e fechar de olhos, que o nosso dia-a-dia muda.

Sem avisar apareceu-nos uma epidemia mundial mortífera: a Covid-19. Vivemos numa guerra biológica, sem dúvida alguma. Já se ouvia falar de uma possível Terceira Guerra Mundial e da maneira que o mundo se estava a comportar. Sabe-se que mundialmente não há alimentos para tanta gente, mais cedo ou mais tarde algo iria acontecer.

Hoje estamos a viver dias de muita angústia, pânico e solidão, porque nem com os vizinhos podemos ir beber um café ou conviver com amigos. Quando se precisa de ir comprar o essencial, é à fugida - ir e vir - e fica-se a dois metros de distância da outra pessoa. Tudo e todos desconfiam de possuir o vírus mas é uma medida de precaução.

Nunca pensei viver este tempo… tempo de medo, desânimo, tristeza e de estar deste lado do Atlântico, sempre com o coração nas mãos por causa dos nossos familiares. As incertezas quanto ao futuro, pois sabemos que nada vai ser igual, a economia vai para baixo, o trabalha agora tem que esperar. As coisas vão mudar, os jovens de hoje não sabem o que o futuro lhes reserva.

Aqui em casa estamos a fazer quarentena desde o dia 16 de Março. Vivo o medo do maldito vírus se revelar num de nós, não por mim mas pelo meu filho. Isto ter que passar o dia inteiro em casa ainda é mais doentio e ainda não se vê a luz ao fundo do túnel.

Todos iremos ter uma Páscoa diferente com os olhos posto na vida sem pressas, apenas queremos viver livres desta peste. Tento passar os dias da melhor maneira possível pelo meu quintal, se não estiver frio, e olhos postos na TV, semear os tomates e alfaces em vasos dentro de casa para ir passando o tempo.

A esperança é a última coisa morrer. Rezo muito e peço a Deus que nos dê melhores dias. Mas tudo será diferente daqui para a frente.

Que Deus Pai nos traga Saúde para todos.