Atlas digital que promove reutilização de edifícios públicos na Península Ibérica abrange concelho de Peniche
- Categoria: Oeste
- 22/04/2025 12:45
Peniche é o único Município do Oeste, entre os concelhos portugueses, que participam no projecto de atlas digital, uma nova plataforma que pretende valorizar a história da construção e utilização de edifícios públicos do século XX em Portugal e Espanha e incentivar a sua reutilização, segundo um comunicado divulgado.
A ferramenta 'Arquitectura Aqui' - desenhada por investigadores financiados pela União Europeia e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia - funciona como um atlas interactivo que reúne informação histórica e documental, acrescentando-lhe a participação de 95 comunidades ibéricas sobre “centenas de edifícios coletivos”, como escolas, centros de saúde, bibliotecas, balneários, mercados ou quartéis de bombeiros. Muitos destes edifícios estão hoje abandonados ou subutilizados, “apesar do seu valor arquitectónico, social e urbano”, de acordo com os investigadores. “Embora alguns estejam ainda em funcionamento, outros foram desactivados, demolidos ou substituídos por novas construções”, acrescentam, lamentando que frequentemente se opte por “construir de raiz sem considerar o potencial de adaptação do património existente”.
Com a plataforma, os investigadores - que desde 2021 estão a estudar edifícios de uso colectivo em várias regiões de Portugal e Espanha construídos entre 1939 e 1985 - pretendem contribuir para que as comunidades e os decisores façam “escolhas mais informadas” sobre “que edifícios se devem manter, reutilizar e substituir”.
No comunicado, o coordenador da plataforma, Ricardo Agarez, arquitecto e investigador no Iscte, sublinha que existe em Portugal “um grande património edificado”, resultante “do esforço colectivo de muitas gerações”. Ora, “estes edifícios são essenciais para a sustentabilidade das comunidades e para a construção da sua identidade”, refere Ricardo Agarez, assinalando que o seu valor é mais do que material. “São espaços onde se criam memórias, tanto individuais como colectivas, desempenhando um papel social e comunitário fundamental”, explica.
Segundo o estudo, a reutilização destes edifícios pode responder a desafios contemporâneos como a falta de habitação acessível e o rejuvenescimento das comunidades por fluxos migratórios, reduzindo o desperdício e promovendo soluções sustentáveis. “Muitos foram construídos com materiais duráveis e localizações estratégicas, o que lhes confere potencial para novos usos sem necessidade de alterações estruturais”, destacam os investigadores. “Hoje, assiste-se a uma avalanche de construção nova, muitas vezes ignorando a riqueza do que já existe. A nossa proposta passa por olhar para estes edifícios com conhecimento e consciência, respeitando a sua história e explorando as suas possibilidades de adaptação”, defende Ricardo Agarez, que, em Setembro de 2020, quando ainda era investigador na Universidade de Évora, ganhou uma bolsa de 1,5 milhões de euros do Conselho Europeu de Investigação para estudar formas de colocar a história da arquitectura ao serviço da resiliência e sustentabilidade das comunidades.
A plataforma 'Arquitectura Aqui' - dinamizada por um colectivo de 16 investigadores - é aberta a qualquer cidadão ou entidade que queira consultar informações, incentivando também à participação pública. Gerando um arquivo em permanente actualização, em português e espanhol, a ferramenta tem registados, neste momento, 2.700 edifícios e equipamentos, 3.800 documentos e 4.000 pessoas e organizações. As comunidades participantes são, em quase 90%, portuguesas, figurando apenas, da nossa região, o concelho de Peniche.