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PS e PSD com opiniões divergentes nas suas bancadas sobre localização do novo Hospital do Oeste

Assembleia da Republica

A localização do futuro Hospital do Oeste esteve em discussão na Assembleia da República esta quinta-feira, dia 16, e mostrou divergências profundas entre deputados das mesmas bancadas do PS e PSD. Em causa estão as intervenções dos eleitos caldenses Hugo Oliveira (PSD) e Sara Velez (PS), que subiram ao púlpito para pôr em causa o estudo da Universidade Nova de Lisboa para a OesteCIM - Comunidade Intermunicipal do Oeste, que considera o Bombarral como a melhor localização para receber a infraestrutura hospitalar, contrapondo que o melhor local está afinal nas Caldas da Rainha.

Hugo Oliveira, que para além de deputado por Leiria é vereador na autarquia caldense e presidente da distrital do PSD, foi o primeiro a intervir, tendo explanado as razões que o levam a suportar a tese de que é nas Caldas da Rainha que deve ficar o nosso hospital oestino. “Um equipamento como este não pode ser ‘plantado’ sem que se meçam as consequências a montante e a jusante do território”, criticou. Voltou, a exemplo do que já tinha feito num artigo de opinião no jornal Observador, a pôr em causa a independência da lourinhanense Ana Jorge para liderar o grupo nomeado pelo ministro da Saúde para o ajudar a escolher o melhor local e as valências do futuro Hospital do Oeste, pela sua “ligação ao território e que disputa a localização”, sem, mais uma vez, concretizar a acusação à ex-ministra socialista. E, quanto a Torres Vedras, advoga que o sul do Oeste deve ser servido pelas unidades hospitalares de Loures e Vila Franca de Xira do SNS.

Da bancada do PS, o deputado João Nicolau (Alenquer) criticou o “bairrismo” de Hugo Oliveira em defender a sua cidade como o melhor local para o novo hospital, colocando em causa “um estudo independente” mandado fazer pela OesteCIM e cujos pressupostos o social-democrata contesta foram aprovados por todos os 12 presidentes de câmara. ”Qualquer comportamento que venha a colocar em causa este processo não está a defender a saúde da população da região e sim hipotecar todo o trabalho de anos e a atrasar ainda mais uma resposta que os oestinos merecem”, alertou.

Da bancada da Iniciativa Liberal, Joana Cordeiro defendeu que a decisão do novo hospital deve assentar em critérios técnicos e não políticos e procurar dar resposta às necessidades da população, com base em estudos e na maior “transparência que este processo exige”. Dados como as unidades de saúde públicas, privadas e do sector social, devem ser tidas em conta nesta equação. E não compreendeu “as dúvidas” de Hugo Oliveira sobre “o estudo independente” realizado pela Universidade Nova para a OesteCIM.

Do Chega, pela voz do deputado leiriense Gabriel Mithá Ribeiro, foi revelado que o partido defende o novo hospital nas Caldas da Rainha/Óbidos porque, ao contrário de Torres Vedras, “não tem acesso a serviços privados”. “Nós compreendemos a posição de Torres Vedras, mas há um critério que fez pesar a nossa decisão que é o da coesão territorial”, disse. Nesse sentido, o Bombarral, apesar de pertencer ao mesmo distrito e confinar com os concelhos caldense e obidense, está “a sul” da localização ideal. E exortou o PS e o PSD a que se “definissem nesta história”.

A segunda intervenção do púlpito a suscitar discussão foi a da deputada socialista Sara Velez que, a par do seu conterrâneo social-democrata, também seguiu praticamente a mesma argumentação para defender a tese de que as Caldas da Rainha devem receber o novo hospital. Contudo, também frisou que compete ao ministro Manuel Pizarro a decisão final sobre este dossiê. A política caldense justificou a defesa do hospital na cidade termal como sendo de “interesse nacional”, tendo em conta que “entre Leiria e Lisboa não existe mais nenhuma unidade hospitalar” de dimensão relevante para servir as populações.

As críticas ao processo surgiram também da bancada comunista pelo deputado João Dias, que ironizou o facto de que “assim este hospital nem sequer chega ao papel”, quanto mais ao terreno. “Tristemente assistimos a deputados do mesmo grupo parlamentar, uns a defender uma localização e outros a defender outra”, acrescentando que estas intervenções foram feitas “não por interesse das populações mas de outra, nomeadamente eleitoralista... e isso não fica bem!”. E, a propósito, lembrou que a maioria parlamentar socialista votou contra uma proposta comunista para o Orçamento de Estado de 2023 que incluía o financiamento de oito milhões de euros para o futuro hospital oestino.

Mas a intervenção mais crítica pertenceu ao deputado sobralense e vereador torriense social-democrata Duarte Pacheco, que criticou Hugo Oliveira e Sara Velez por estarem a prestar “um mau serviço para as populações do Oeste” por não procurarem consensos políticos que foram alcançados, até à realização do estudo, no seio da OesteCIM. Elogiou a Câmara Municipal de Torres Vedras, liderada pela socialista Laura Rodrigues, “que teve a hombridade de dizer que estamos disponíveis, em nome do consenso, para que o hospital fique no Bombarral”. E criticou os autarcas da Caldas e Óbidos por não levarem a seriedade política até ao fim deste processo, ou seja, “que respeitassem a seriedade do estudo [da Universidade Nova de Lisboa] mas infelizmente não foi isso que aconteceu!”.

Curiosamente, não participaram nesta discussão os deputados bombarralenses Jorge Gabriel Martins (PS) e João Carlos Duarte (PSD), que não estavam presentes no hemiciclo nessa altura, nem o deputado torriense Bernardo Blanco (IL) que tinha participado na discussão de outra temática poucos minutos antes e que tem também origens familiares no Bombarral.

Texto: ALVORADA
Fotografia: Paulo Ribeiro/ALVORADA (arquivo)