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Mais de 400 tractores e dois mil agricultores protestam nas Caldas da Rainha contra políticas do Governo

Manif lourinha 02032023

Mais de 400 tractores circularam em marcha lenta nas Caldas da Rainha em protesto contra as políticas do Governo para o sector agrícola, naquela que a Confederação dos Agricultores de Portugal considera a maior manifestação efectuada na região Oeste. Entre os manifestantes estavam mais de meia centena de agricultores do concelho da Lourinhã, onde esta manhã partir uma coluna de tractores com destino à cidade termal, organizada pela Associação Interprofissional de Horticultores do Oeste, Adega Cooperativa da Lourinhã e Louricoop.

A manifestação convocada pela CAP - Confederação dos Agricultores de Portugal visou hoje mostrar que os agricultores “não são os grandes responsáveis pelo aumento dos preços dos alimentos”, já que estes “nem sequer ainda reflectem o aumento dos custos” de produção, disse à agência Lusa o presidente da confederação, Eduardo Oliveira e Sousa. “Os custos também aumentaram porque os agricultores não receberam as ajudas prometidas”, lamentou o presidente da CAP, lembrando que, enquanto os agricultores espanhóis “receberam ajudas nos combustíveis, nos fertilizantes e têm ajudas, agora, em relação ao problema da guerra [na Ucrânia]”, em Portugal o sector “teve que assimilar” o aumento dos custos de produção.

Esta foi apenas uma das razões que, segundo a CAP, levaram hoje 430 tractores e cerca de dois mil agricultores de 65 organizações de produtores, de norte a sul do país, a participar no protesto que percorreu as ruas das Caldas da Rainha, em marcha lenta, ao som de palavras de ordem contra a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes. Os agricultores queixam-se da “incompetência do Ministério da Agricultura” numa altura em que volta a estar em cima da mesa a questão da seca, considerando Eduardo Oliveira e Sousa que esta pode levar em breve, na região do Oeste, a “uma carência” de frutas e hortícolas. “As candidaturas às medidas de apoio para o novo período de Política Agrícola Comum estão abertas”, mas, denunciou o presidente da CAP, “não funcionam, e 80% dos agricultores não se conseguem inscrever”, disse, apontando, mais uma vez, a culpa à “incompetência do ministério que fez tudo à ultima hora”.

Para Eduardo Oliveira e Sousa, é necessária “uma alteração profunda” no ministério que, considerou, “em completa desarticulação e a desmanchar-se todos os dias”, sem “uma defesa forte do sector agrícola e um reconhecimento do valor da agricultura e do trabalho dos agricultores”.

Reivindicações transversais a todo o sector agrícola, vincou Carlos Amaral, da Associação dos Orizicultores de Portugal (AOP), lamentando “a falta de resposta políticas do ministério” a todos os problemas colocados pelo sector responsável por 29 mil hectares de produção de arroz.

No caso dos produtores de arroz, as críticas estenderam-se também ao Primeiro-Ministro, António Costa, que acusam de “uma insensibilidade grande em relação a todos estes problemas, e da inexistência de uma reparo ou uma atenção” aos agricultores, levando-os a ir “para a rua” e as confederações dos vários sectores a subscrever um documento único.

Indignado pela exclusão do sector apícola do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum 2023-2027, o vice-presidente da AALBA (cooperativa de produtores de mel) juntou hoje a sua voz ao protesto em nome de um sector que exige ser tratado “da mesma forma que os demais, ou seja, que os outros produtores, pecuários e agricultores em geral”. O sector reclama ainda apoios que estavam contemplados no anterior quadro de apoio e que “foram retirados sem explicação”.

Queixas que geraram hoje uma das maiores adesões às manifestações que a CAP tem convocado desde Janeiro, com os agricultores a “fazerem história” com a realização da maior concentração de sempre de tractores e agricultores nas Caldas da Rainha. O protesto “demonstra bem a insatisfação que existe nos agricultores, que vivem do produto da terra”, afirmou o secretário-geral da CAP, Luis Mira, instando o Governo a pôr “a mão na consciência, se a tiver”. “Altere os procedimentos, coloque as verbas europeias à disposição dos agricultores”, desafiou Luis Mira no protesto em que o sector voltou a criticar o facto de 1.300 milhões de euros do último quadro de apoio terem ficado por executar, entre outras criticas à transferência de competências das direcções regionais de agricultura (DRA) para as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), e o chumbo de projectos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Os protestos dos agricultores vão voltar a fazer-se ouvir, no dia 9, em Beja, e, no dia 24, em Elvas, informou o Luis Mira, acrescentado que, além de manifestações, estão previstas outras formas de luta.

Texto: ALVORADA com agência Lusa
Fotografia: Paulo Ribeiro/ALVORADA