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Júlio Severino Rolim: participar ativamente na transformação da sociedade

Júlio Severino Rolim, mais conhecido por Ti Júlio da Atalaia, nasceu a 1 de setembro de 1934, no lugar de Atalaia de Cima. Era único filho rapaz do Ti Agostinho. Fez a instrução primária e ficou sempre na aldeia, ajudando os pais nas lides do campo. Fez o serviço militar, no qual teve o posto 1º Cabo, com toda a responsabilidade no Forte do Alto do Duque. Veio da tropa e começou a namoriscar a Adelaide, menina cristã muito praticante da Igreja e prendada, com a qual veio a casar. Do seu matrimónio nasceu um menino que todos chamavam Mateusinho.

O Ti Júlio era um homem dinâmico, de acção, que não deixava por mãos alheias, aquilo que ele próprio podia fazer. Com um estilo de grande humor; por isso tinha sempre uma história ou uma anedota para contar, o que passou a ser conhecido como uma figura de consensos. Era um cidadão muito participativo e de muita iniciativa, por isso ter sido membro dirigente nas mais diversas instituições.

A Capela de Nossa Senhora da Guia estava velhinha e já não cabiam os fiéis das Atalaias, do Montoito e da Cabaceira nas Missas Dominicais e nos funerais que ali se celebravam. Com outros. Tornou-se necessário substituir aquela por um templo novo, mais espaçoso. De 1970 a 1978 Júlio Rolim fez parte da Comissão de Obras do novo templo, cuja arquitectura ficou a dever-se ao Arq. Lucínio Cruz, a quem foi atribuído uma avenida com o seu nome na Lourinhã. Júlio desempenhou o cargo de tesoureiro da Igreja da Atalaia durante vários anos. Foi membro ativo do Movimento dos Cursos de Cristandade, na Ação Católica Rural e desempenhou o serviço de Ministro Extraordinário da Comunhão por vários mandatos.

«O verdadeiro seguimento de Cristo exige a participação ativa na transformação da sociedade... Deus determina que se dê especial atenção e meios de vida digna aos mais necessitados... Homens e mulheres do nosso tempo são chamados por Jesus Cristo a serem discípulos missionários em todos os lugares, principalmente onde o individualismo predomina, sendo testemunhas do Seu amor oferecido à humanidade através da Cruz redentora» (DSI)

Após a revolução do 25 de Abril, Júlio Rolim foi eleito na Atalaia para um Conselho Consultivo, promovido pela então Comissão Liquidatária do Grémio da Lavoura, da Lourinhã, que, depois de várias assembleias, se extremou em duas organizações diferentes: uma que foi a Associação de Agricultores da Lourinhã, em 5 de Dezembro de 1976, afeta à CAP, e outra que veio a constituir a LOURIcoop, no dia 10 de Dezembro de 1976. Desta foi fundador, fazendo parte da Direção e mais tarde em outros órgãos sociais da mesma durante alguns anos.

A LOURIcoop abre vários postos de atendimento em diversos lugares do concelho e na Atalaia é um dos primeiros dirigido por ele, pela mulher e pelo filho Mateus, atendendo os agricultores a quem dá os seus conselhos.

Ele não fica por aqui, pois, desde Abril de 1975 ele fez parte da Direção da Casa do Povo da Lourinhã, cargo que exerceu sem interrupção até 19 de Julho de 2016.

Júlio Severino, com outros levou por diante um movimento para a criação da freguesia da Atalaia, com o auxílio do Deputado, Catanho de Menezes, e que veio a ser instituída em  4 de outubro de 1985. Até à constituição da União das Freguesias de Lourinhã e Atalaia, em 2013, no âmbito de uma reforma administrativa nacional.

No sector da solidariedade social também ele, em 1992, ajudou a criar a Associação Social Cultural e Humanitária da Atalaia, mais conhecida pelo Lar da Senhora da Guia. Fez parte da Direção e dos corpos sociais, até à data do seu falecimento, no dia 25.11.2018.

Era reconhecido como um cidadão gerador de consensos e por isso, Júlio Rolim era chamado várias vezes por ano para ajudar famílias a fazer as partilhas. Era uma tarefa difícil, pois é sempre nestas circunstâncias que os irmãos ou outros herdeiros se desentendem, porque ninguém quer ficar prejudicado. O Ti Júlio contava-lhes umas histórias; e se assim não conseguisse a harmonia, adiava para outro dia, muitas vezes para um domingo depois da Missa, em que os ânimos estariam mais conciliadores.

A propósito da sua dinâmica conciliadora, ele contava-nos que, no Verão Quente de 1975, num grupo de 4 pessoas em que cada um começa de puxar da sua pistola para mostrar a sua valentia, ele, na sua ousadia de não querendo ficar atrás, diz: eu tenho aqui uma arma que vale mais que essas três pistolas. Os três logo replicaram: - Então mostra-nos lá essa tua arma secreta! Ele mete a mão ao bolso e saca um crucifixo, dizendo-lhes: Esta arma vale mais que todas as vossas! Estupefactos calaram-se.

Enfim, o Ti Júlio Rolim com o seu bom senso, com o seu espírito humorístico, com a sua sabedoria conciliadora e com a sua Fé cristã profundamente enraizada na justiça, na fraternidade e na paz deixou-nos um valioso testemunho dum verdadeiro cidadão cristão.

Padre Joaquim Batalha
Artigo escrito segundo o Novo Acordo Ortográfico