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Desabafos: a boda

Uma das cerimónias da Igreja de que mais gostava era dos casamentos. Não era só pelo acto em si, mas em tudo o que o envolvia.

Depois do casamento, os noivos e acompanhantes saiam da Igreja Matriz debaixo de uma chuva de arroz e tiravam fotografias. De seguida agrupavam-se nos degraus, existentes na altura, a caminho do Asilo, para a fotografia de grupo. Aí sim, era a parte de que eu mais gostava, o pai da noiva atirava para o povo que rodeava o cortejo, uma mão cheia de rebuçados, amendoins e, quando era de posses, dinheiro.

A malta gritava “boda abençoada”, enquanto procurava guardar nos bolsos a maior quantidade do atirado ao ar.

Quando chovia, o pregão mudava consoante a “bondade” do pai da noiva. Se dava alguma coisa, ouvia-se: “boda molhada, boda abençoada”. Se, por outro lado, nada atirava, a malta gritava: “boda molhada, boda borrada”.

E o cortejo lá seguia para o beberete, deixando para trás a turba mais ou menos contente consoante o amealhado.

João Farinha