Desabafos: Começar a viver
- Opinião
- 18/04/2019 17:21
Nada dado às novas tecnologias a televisão bastava-lhe. O caixote mágico era a companhia inseparável de todas as noites.
Um problema técnico impossibilitou-o de, nessa noite, como nas outras desde há anos, ver televisão. Chamou o técnico. Nada feito. Tinha que levar o aparelho para o arranjar. Mandar vir as peças... no mínimo três dias. Julgou que ia morrer.
Três dias sem ver televisão, em casa, de chinelos, sentado (mais deitado do que sentado) no sofá. Era o fim. Lembrou-se que tinha lâmpadas em casa e acendeu-as.
Há quanto tempo não via a casa a luz da luz elétrica!
Leu o jornal que comprava diariamente, só por causa do Sudoku e das palavras cruzadas, pois as notícias via no Telejornal e leu o livro que há muito aguardava conclusão.
Saiu com a mulher e deu uma volta pelo quarteirão. Não se lembrava da última noite em que saíram. Imensamente feliz, brincou com os filhos e ajudou a deitá-los. Foi para a cama e não teve pesadelos.
Quando vieram entregar o televisor, não o aceitou de volta.
Começara a viver.
João Henrique Farinha