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Desabafos: Começar a viver

Nada dado às novas tecnologias a televisão bastava-lhe. O caixote mágico era a companhia inseparável de todas as noites.

Um problema técnico impossibilitou-o de, nessa noite, como nas outras desde há anos, ver televisão. Chamou o técnico. Nada feito. Tinha que levar o aparelho para o arranjar. Mandar vir as peças... no mínimo três dias. Julgou que ia morrer.

Três dias sem ver televisão, em casa, de chinelos, sentado (mais deitado do que sentado) no sofá. Era o fim. Lembrou-se que tinha lâmpadas em casa e acendeu-as.

Há quanto tempo não via a casa a luz da luz elétrica!

Leu o jornal que comprava diariamente, só por causa do Sudoku e das palavras cruzadas, pois as notícias via no Telejornal e leu o livro que há muito aguardava conclusão.

Saiu com a mulher e deu uma volta pelo quarteirão. Não se lembrava da última noite em que saíram. Imensamente feliz, brincou com os filhos e ajudou a deitá-los. Foi para a cama e não teve pesadelos.

Quando vieram entregar o televisor, não o aceitou de volta.

Começara a viver.

João Henrique Farinha