Pesquisa   Facebook Jornal Alvorada

Assinatura Digital

Desabafos: Traumas de infância

Há coisas que nunca esquecemos mesmo que (ou porque) passadas na nossa infância. Algumas são tão traumatizantes que ficam para a vida inteira. Não, não me estou a referir aos castigos que então se davam na escola primária (reguadas com a menina dos cinco olhos, ponteiradas com a cana de bambu as orelhas de burro).

Na altura, os pais entregavam os seus filhos aos professores com a indicação de 'faça como se fosse seu filho'. Não havia nada a fazer. Ninguém ia queixar-se a casa que tinha sido sovado na escola, ou que o professor tinha puxado as orelhas até o levantar do chão. E, se por inocência ou distração o fazia, levava a dobrar.

Que fique claro que não concordo com os castigos que se davam na altura, assim como não concordo que, hoje em dia, os professores não possam sequer abrir os olhos para os alunos que estes ficam logo traumatizados.

Mas não foi para falar disto que iniciei este texto. O que me traumatizou mesmo para o resto da vida foi o óleo de fígado de bacalhau que a minha mãe fazia questão de me dar para eu crescer mais forte e saudável. Era intragável. Nem os gomos de tangerina ingeridos logo a seguir à colher de sopa daquele líquido amarelo pestilento conseguia tirar da boca o sabor daquela mistela.

Há coisas que nos traumatizam para o resto da vida.

João Henrique Farinha