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Covid-19: Mais de um quarto dos doentes mantem sintomas meses após recuperação - Estudo

Covid 19 teste

Cerca de 25% a 30% das pessoas que tiveram Covid-19 mantêm sintomas além de oito meses após a recuperação, o que transforma esta doença numa patologia crónica, segundo um estudo divulgado hoje pelo epidemiologista Henrique Barros.

O inquérito, que foi apresentado na reunião no Infarmed sobre a ‘Situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal’, envolveu uma amostra de quase 2.000 mil doentes seguidos no Centro Hospitalar de São João no Porto, dos quais cerca de 20% foram internados e os outros foram seguidos sempre em ambulatório. Foi possível falar, 6 a 9 meses depois, com 62% destes doentes identificados desde o primeiro dia da infecção até 18 de Maio, disse Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.

Quando lhes foi questionado qual foi o maior desafio que sentiram depois da infecção, afirmaram que foi o isolamento, foi o ultrapassar da doença, foi o afastamento da família, a ansiedade, além dos problemas relacionados com incerteza do futuro e as dificuldades financeiras. “Isso significa que as pessoas valorizam a doença e têm medo da doença. Tinham medo da morte, tinham medo de infectar os outros e tinham medo das sequelas e as sequelas existem”, salientou o investigador.

À pergunta se desde o período em que foi considerado recuperado o doente continuou a sentir-se afectado por problemas de saúde, pelo menos, 60% disseram manter problemas numa proporção muito alta. “Queixas de depressão, cefaleias, tonturas, palpitações e as conhecidas alterações do olfato e do paladar mantêm-se durante muito tempo e afectavam praticamente 18% destas quase 1.200 pessoas que inquirimos”, revelou.

Por último, foi perguntado se desde o início da infecção - e estes doentes eram praticamente todos sintomáticos porque na altura não se faziam testes a assintomáticos - quantos dias esteve com sintomas e quando eles “finalmente apareceram”.

O estudo concluiu que “cerca de 25% a 30% das pessoas mantêm sintomas para lá dos oito, nove meses. Isto é, a Covid-19 transforma-se se numa doença crónica”, disse Henrique Barros. “Um pouco mais no sexo feminino do masculino, um pouco mais nas idades intermédias do que nas idades extremas”, referiu.

O epidemiologista alertou que vão encontrar-se muitas pessoas com sintomas no futuro que nunca souberam que estiveram infectadas. “Se não lhe fizermos, por exemplo, o teste de anticorpos não vamos saber que ela tem essa história no seu passado. Por isso eu atrevo-me a dizer que é preciso manter estes milhares e milhares de pessoas sob observação”, defendeu.

Por outro lado, “os serviços de saúde têm que as considerar como consideram os doentes não-Covid, porque já não têm essa infecção, mas a infecção foi um gatilho de um problema que vai afectar muita gente no futuro. E se isso significa que temos que estar muito atentos e muito seguros na prevenção da infecção, também significa que temos que estar muito atentos e muito seguros no acompanhamento das pessoas e na atenção às pessoas”, declarou. Alertou ainda que quando se estão a observar 10 mil casos por dia provavelmente estarão a ocorrer 30 mil, defendendo que é preciso continuar “a fazer muitos testes fazer, o mais possível”.

Portugal ultrapassou hoje as 8.000 mortes relacionadas com a Covid-19 desde o início da pandemia ao ter registado nas últimas 24 horas mais 155 mortos, o valor diário mais elevado de sempre, segundo a Direcção-Geral da Saúde (DGS).

Texto: ALVORADA com agência Lusa
Fotografia: Lusa