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Covid-19: Especialista considera impossível manter sempre o índice Rt abaixo de 1

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O matemático Óscar Felgueiras, um dos especialistas convidados pelo Governo para aconselhar sobre o plano de desconfinamento no âmbito da pandemia de Covid-19, considerou hoje impossível manter o índice de transmissibilidade (Rt) do vírus SARS-CoV-2 sempre abaixo de 1.

Óscar Felgueiras frisou hoje, durante uma conferência promovida pela Sociedade Portuguesa de Matemática, realizada por videochamada, a importância de manter a baixa incidência do novo coronavírus. "Não devemos ter o Rt acima de 1. É óbvio que isso é impossível ser atingido de forma permanente. A certa altura vamos ter poucos casos e basta uma pequena variação para termos necessariamente o Rt acima de 1, mas o objectivo é claro: queremos uma incidência baixa", acentuou o especialista em epidemiologia, durante a iniciativa integrada nas comemorações do Dia Internacional da Matemática.

O assessor do Conselho Directivo da Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN) alertou para a necessidade de "não relaxar" e de ter a "percepção do risco". "É muito importante que as pessoas tenham constantemente a percepção de risco. As coisas começam normalmente a correr mal quando se perde essa percepção", frisou Óscar Felgueiras.

O plano de desconfinamento, apresentado na quinta-feira pelo Primeiro-Ministro, prevê novas fases de reabertura a 5 e 19 de Abril e a 3 de Maio, mas António Costa advertiu que as medidas da reabertura serão revistas sempre que Portugal ultrapassar os “120 novos casos por dia por 100 mil habitantes a 14 dias” ou sempre que o índice de transmissibilidade (Rt) do vírus SARS-CoV-2, que origina a Covid-19, ultrapasse 1. O matemático da Universidade do Porto chamou a atenção para as "precauções habituais" a tomar, para que não tenha de se recuar no desconfinamento. "É muito importante termos noção dos riscos e que haverá consequências caso o nosso comportamento se altere de uma forma que não é ajustada", alertou Óscar Felgueiras, que falou na conferência sobre o papel de um matemático numa pandemia. O especialista em epidemiologia salientou a existência “claramente de uma incidência muito baixa" neste momento, mas mostra-se preocupado com a nova variante, “com que ainda não convivemos tempo suficiente para conhecermos assim tão bem".

Óscar Felgueiras recordou ter recomendado, na reunião de 12 de Janeiro, no Infarmed, o encerramento das escolas com alunos a partir dos 12 anos, "por prudência", depois de ter tido conhecimento "da dimensão da presença da nova variante [detectada no Reino Unido] em Portugal, que já começava a ser considerável". "Penso que isso não foi suficientemente valorizado na altura", referiu hoje o matemático, segundo o qual "a opção política" foi adiar essa decisão. "Para mim era claríssimo que a nova variante tinha uma maior transmissibilidade. As medidas que estavam em vigor não seriam suficientes para conter o aumento", acrescentou o especialista.

O assessor da ARSN disse ter sido contactado em 26 de Janeiro, tal como Raquel Duarte, para fazer o plano de desconfinamento e a equipa começar a "pensar no dia depois de amanhã". "O plano que aparece é a simplificação de todo um trabalho que existe por trás, mas que foi aprofundadamente estudado", vincou o especialista, que mencionou "o esforço" de, na documentação que apresenta, tentar simplificar a linguagem técnica, "de forma a ser entendido por quem não é especialista".

Para o professor da Universidade do Porto, "faz sentido" começar o desconfinamento pelas crianças. "Sabemos que as crianças têm muito menor risco. Podem contrair o vírus e contagiar outros, mas em termos de consequências para elas próprias não há grande perigo", sustentou. Óscar Felgueiras revelou ter sido infectado com o vírus e ter estado "três semanas sintomático", entre o final de Outubro e o início de Novembro, altura em que fez a primeira apresentação no Infarmed.

Texto: ALVORADA com agência Lusa