“Até ao Céu!”
- Categoria: Editorial
Lúcia. «Nossa Senhora disse-nos: - Não tenhais medo! Eu não vos faço mal! - De onde é Vossemecê? - lhe perguntei. - Sou do Céu. - E eu também vou para o Céu? - perguntou a Lúcia. - Sim, vais. - E a Jacinta? - Também. - E o Francisco? - Também, mas tem que rezar muitos terços.»
Francisco. «Nas vésperas de morrer, disse-me: - Olha: estou muito mal; já me falta pouco para ir para o Céu. Decerto, no Céu, vou ter muitas saudades tuas! (…) - Então adeus, Francisco! Até ao Céu! - Adeus, até ao Céu!... E o Céu aproximava-se. Para lá voou no dia seguinte, nos braços da Mãe celeste.»
Jacinta. «Perguntei-lhe uma vez: - Que vais a fazer no Céu? - Vou amar muito a Jesus, o Imaculado Coração de Maria, pedir muito por ti, pelos pecadores, pelo Santo Padre, pelos meus pais e irmãos e por todas essas pessoas que me têm pedido para pedir por elas. Quando a mãe se mostrava triste por a ver tão doentinha dizia: - Não se aflija, minha Mãe: vou para o Céu. Lá hei-de pedir muito por si.»
Neste dia, 20 de Fevereiro, em que a Igreja em Portugal celebra a Festa dos Pastorinhos de Fátima, os santos Francisco e Jacinta Marto, parece-me oportuno e necessário falar das três crianças que há mais de 100 anos foram um belíssimo e providencial sinal do céu quando este parecia estar totalmente fechado perante a monstruosidade da I Guerra Mundial, o flagelo devastador da epidemia chamada de Pneumónica, a ameaça assustadora do Comunismo depois da Revolução Russa e muitas outras tensões destrutivas em várias partes do mundo.
As aparições da “Senhora, vestida toda de branco, mais brilhante que o Sol, espargindo luz”, possuem na sua mensagem uma dimensão universal que transcende o tempo e o lugar, porque nela estão presentes elementos que vão ao encontro dos anseios mais profundos do ser humano e oferecem um caminho para a paz e a transformação do mundo. A vida destas crianças é transformada por uma experiência prodigiosa de que o Céu existe, e que todos precisamos de viver para Deus, para que as nossas vidas não acabem num vazio de mal e angústia.
A oração e os sacrifícios pela conversão dos pecadores é o centro da vida destas crianças. Tudo era ocasião para se unirem mais a Jesus e se oferecerem pela salvação das almas que estavam em risco de se perderem para sempre. Durante a terceira aparição em Julho de 1917, Nossa Senhora permitiu que tivessem a visão do inferno num cenário aterrador de fogo e sofrimento, onde almas e demónios se encontravam. Desta forma tornou-se claro a realidade do pecado e suas consequências, e, por isso, a importância da conversão, da necessidade de rezar, e sacrificarem-se pela salvação dos pecadores. A partir daí entregaram-se totalmente à misericórdia e à compaixão, a amarem a Deus e ao próximo, evitando o pecado e buscando a salvação para todos.
A vida dos pastorinhos é um excesso de amor que apaixona e interpela. A Virgem Maria escolheu estas crianças para fazer delas portadoras de uma mensagem fundamental: só o amor pode vencer o mal e a vida tem sentido se nos levar ao céu. É simples e talvez inocente, mas é a verdade essencial para definir a nossa existência. Se nos pusermos silenciosamente à escuta do nosso coração, poderemos ouvir nele o mais humano dos anseios: a eternidade. Não o fazer é viver alienado no tempo que passa e dificilmente conseguir escapar a levarmos uma existência de escravos.
Francisco e Jacinta viveram poucos anos neste mundo, por desígnio misterioso de Deus que as chamou para si ainda em idade infantil, mas a verdade é que a suas vidas são riquíssimas e um testemunho maravilhoso de como a Graça de Deus nos capacita muito para além da nossa finitude. Sempre que releio as “Memórias da Irmã Lúcia” fico comovido pela simplicidade e autenticidade da vida destas crianças. Era tão bom que pudesse aprender com elas!
Termino com um excerto do Hino dos Pastorinhos: “Contemplando Deus no Céu / Pelos anjos adorado
Alcançai o dom da paz / Para o mundo extraviado. Protegei a nossa Pátria / Para que, à sombra da cruz / Guarde sempre a fé cristã / E a verdade de Jesus.” Assim seja!