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As Chagas que nos curam!

A 7 de Fevereiro a Igreja celebra a Festa das Cinco Chagas do Senhor. O missal sintetiza desta forma a sua importância: “O culto das Cinco Chagas do Senhor, isto é, as feridas que Cristo recebeu na cruz e manifestou aos Apóstolos depois da ressurreição, foi uma devoção muito viva entre os portugueses, desde os começos da nacionalidade. São disso testemunho a literatura religiosa e a onomástica referentes a pessoas e instituições. Os Lusíadas sintetizam (I, 7) o simbolismo que, tradicionalmente, relaciona as armas da bandeira nacional com as Chagas de Cristo. Assim, os Romanos Pontífices, a partir de Bento XIV, concederam a Portugal uma festa particular, que, ultimamente, veio a ser fixada neste dia”.

A história diz que, durante a Batalha de Ourique, em 1139, D. Afonso Henriques teve uma visão de Cristo crucificado, que lhe prometeu a vitória. Inspirado por esta visão, ele adoptou a cruz com as cinco chagas como símbolo do Reino de Portugal. Este evento foi crucial, pois consolidou a fé cristã como um pilar da identidade nacional e marcou o início da veneração das Cinco Chagas em todo o Portugal.

O profeta Isaías apresenta em quatro cânticos uma figura misteriosa, O Servo do Senhor, cujo retrato os primeiros cristãos reconheceram cumprido plenamente em Jesus na sua paixão. Num dos cânticos é afirmado: «foi ferido por causa dos nossos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos salva caiu sobre ele, fomos curados pelas suas chagas». (Is 53, 5) As marcas da sua dolorosa paixão são um remédio de graça porque nos permitem viver a Graça de um Amor que vence todo o mal.

A nossa humanidade frágil, débil e sujeita a toda a espécie de tentações precisa de ser redimida, ou seja, libertada deste poder destruidor e escravizante. As chagas de Jesus são para nós a manifestação perene do seu Amor, que chegou ao extremo no seu sacrifício na Cruz. Deus não se arrepende de nos amar. Por isso, a contemplação desse seu Amor é uma fonte de esperança. À vista do Ressuscitado, que conserva as marcas da sua Paixão, apercebemo-nos de que precisamente ali, no ponto extremo da sua humilhação - que é também ele ponto mais alto do amor - germinou a esperança.

Escutemos as Palavras do Papa Francisco: “Se algum de vós pergunta: “Como nasce a esperança?”. “Da cruz. Olha para a cruz, olha para Cristo Crucificado e dali te chegará a esperança que já não desaparece, essa que dura até à vida eterna”. Na Cruz nasceu e renasce sempre a nossa esperança. Assim, com Jesus cada obscuridade nossa pode ser transformada em luz, toda a derrota em vitória, toda a desilusão em esperança. Toda: sim, toda. É essa segurança que fazia exclamar a S. Paulo: «Quem nos afastará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, ou a espada? (…) Mas em todas essas coisas vencemos amplamente graças àquele que nos amou» (Rm 8, 35.37).”

Hoje é fácil cair no pessimismo, na desilusão e na desesperança face a tantas manifestações do mal, umas que são notícia e outras que são terrivelmente ignoradas. Por isso, celebrar as Chagas de Jesus torna-se ainda mais necessário, para reavivar em nós o poder do Amor de Deus manifestado na Cruz de Jesus, cujas feridas são autênticos mananciais de vida e de luz.

D. Afonso Henriques acreditou na visão que lhe deu o ânimo para vencer a batalha, também nós possamos aprender a venerar e desejar que a mesma graça nos leve a vencer os combates da nossa vida. Com Jesus não desanimamos diante das dificuldades e ao aproximarmo-nos das suas chagas somos iniciados na sabedoria de responder com amor ao seu Amor. Aprendemos assim a viver com os outros a mesma ternura que Deus derrama sobre a nossa debilidade pessoal. Por este caminho, a nossa própria vida adquire um renovado sentido de missão que nos lança para além de nós mesmos, contando não com as nossas forças, mas com uma chamada que vem de Deus, que nos transforma e conta connosco para semear no mundo a sua paz e a sua alegria.

A nossa bandeira conserva este simbolismo para que nós nunca nos esqueçamos de onde nascemos e onde está a realidade fundamental da nossa vida. Um dos sonetos que se reza na Liturgia das horas termina assim: “Claros sinais de amor, ah saudade! / Minha consolação, minha firmeza, / Chagas do meu Senhor, redenção minha!” Esta é a verdade que nos conforta, ilumina e salva.

Pe. Ricardo Franco
Edição 1384 - 7 de Fevereiro de 2025