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Raros achados de dinossauros herbívoros no Jurássico da Lourinhã

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Os paleontólogos descobriram na Lourinhã uma diversidade inesperada de dinossauros herbívoros raros - os ornitópodes - encontrando evidências para novas espécies ainda não baptizadas. Os dinossauros herbívoros, como saurópodes e estegossauros, são comuns no Jurássico Superior de Portugal, há cerca de 150 milhões de anos, e no resto do mundo. Contudo, há um terceiro tipo de herbívoros menos conhecido,  muito menos comum nessa época: os dinossauros bípedes denominados ornitópodes.

Os fósseis dos ornitópodes jurássicos são muito escassos, mas os cientistas suspeitam que esse grupo terá sido realmente muito mais diverso do que se pensa. “Suspeitávamos e agora confirmámos que havia uma diversidade de ornitópodes em Portugal desconhecida até hoje”, disse Filippo Maria Rotatori doutorando da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e colaborador do Museu da Lourinhã, cuja dissertação de mestrado em paleontologia decidiu estudar todos os ossos e dentes destes animais na vasta colecção do Museu da Lourinhã, procurando mais pistas sobre esse grupo enigmático. “Estamos a descobrir os primeiros passos de um grupo que, mais tarde, tornou-se bem-sucedido, sendo um dos componentes dominantes dos ecossistemas cretácicos”, acrescentou.

Filippo Rotatori foi orientado pelos paleontólogos da Universidade Nova de Lisboa e Museu da Lourinhã, Octávio Mateus e Miguel Moreno-Azanza, coautores do estudo agora publicado na revista internacional ‘Acta Palaeontologica Polonica’. “Esqueletos completos de ornitópodes são desconhecidos em Portugal, mas com o tempo, o nosso trabalho somava nas colecções do museu local mais de 50 dentes e ossos das arribas jurássicas da Lourinhã” disse o lourinhanense Octávio Mateus, que liderou numerosas campanhas de campo ao longo dos anos. “Desses, o ornitópode mais completo, e maior, é o Draconyx loureiroi, um animal que em vida teria mais de 800 kg e está actualmente exposto no Dino Parque da Lourinhã” acrescentou. Algumas pegadas sugerem ainda que existiam ornitópodes muito maiores na Lourinhã mas cujos ossos ainda não foram encontrados.

Em comunicado enviado ao ALVORADA, o GEAL - Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã/Museu da Lourinhã, adianta que “este estudo demonstrou que durante o Jurássico Superior existiam três espécies de ornitópodes de tamanho pequeno a grande, todos descobertos no concelho da Lourinhã: o Draconyx, o Eousdryosaurus e pelo menos uma outra a ser designada, ou seja, que ainda não tem nome formal reconhecido pelos paleontólogos”. Os autores confirmaram a presença de uma espécie não descrita e ainda desconhecida, “claramente distinta das outras formas reportadas em Portugal e noutros lugares, permanecendo sem nome e aguardando a descoberta de novos fósseis que permitam a sua descrição”.

Além disso, os vestígios de alguns dos maiores indivíduos agora encontrados apresentam características anatómicas descritas anteriormente apenas em dinossauros mais recentes. “O Filippo Rotatori testa agora se esta evidência, que apoia a ideia de que linhagens como a que inclui os famosos Iguanodon e Parasaurolophus, terão tido a sua origem na Europa”, acrescenta o comunicado.

A equipa descobriu que os ornitópodes de pequeno porte mostram proporções peculiares de elementos dos ossos dos membros, sugerindo que não eram animais adultos. “Nós queremos estudar a diversidade de espécies, assim como a paleobiologia dessas criaturas extintas. Procuramos descobrir como eles cresceram e se desenvolveram” afirmou Miguel Moreno-Azanza. Consistentemente com as espécies mais próximas, elas parecem passar por um longo estágio de crescimento contínuo durante sua vida. Isto significa que os ornitópodes tiveram um “período de adolescência” mais longo em comparação com outras espécies.

Os dinossauros ornitópodes de Portugal são interessantes para o estudo das faunas jurássicas, pois são semelhantes aos encontrados noutras partes da Europa, América do Norte e na África Central. Filippo Maria Rotatori quer provar agora a sua tese de doutoramento na mesma universidade, que durante o Jurássico, vários grupos de animais usaram a Ibéria como área charneira para dispersarem por estes diferentes continentes.

Texto: ALVORADA
Fotografia: Direitos Reservados