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Teatro da Rainha inicia temporada 2024 com 'Os Míseros', de Gil Vicente

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Três novas produções, um 'podcast' e uma oficina de teatro em Moçambique marcam a temporada 2024 do Teatro da Rainha, cuja programação arranca na sexta-feira com a apresentação de 'Os míseros', no Centro Cultural das Caldas da Rainha.

A companhia residente nas Caldas da Rainha inicia a programação deste ano com um regresso a 'Os Míseros', de Gil Vicente, numa “chamada de atenção para o problema dos sem-abrigo, uma realidade insuportável que todos temos a responsabilidade de perceber que não se resolve com esmolas nem com caridades”, disse à agência Lusa o encenador Fernando Mora Ramos.

A peça, que se estreia na sexta-feira no Centro Cultural e de Congressos (CCC) das Caldas da Rainha, é “uma sequenciação de fragmentos vicentinos ordenados de outra forma”, disse Mora Ramos aludindo ao espectáculo que mistura personagens de 'Breve Sumário da História de Deus', a alcoólica Parda do 'Pranto de Maria Parda', o vilão João Mortinheira, de 'Romagem de Agravados', a feiticeira Genebra Pereira, do 'Auto das Fadas', Apariço e Ordoño, moços de esporas de 'Quem tem farelos?', encerrando com o 'Auto de S. Martinho'.

A programação de 2024 passará ainda pela estreia de mais duas produções e de uma coprodução com o Teatro Nacional S. João e o CCC.

Já em fase de ensaios, a peça 'Às duas da Manhã', de Falk Richter, será a próxima criação da companhia, marcada, segundo o encenador, pela “crítica ao radical universo produtivista das empresas que procuram trabalhadores hiper produtivos e dos 'coach’ que lhes impingem que isso implica ainda um sorriso, uma vestimenta, serem agradáveis, não perderem muito tempo…”.

Se no texto do dramaturgo germânico é “às duas da manhã que os trabalhadores acordam para a vida e questionam o que estão ali a fazer”, na terceira produção do Teatro da Rainha, o protagonista da comédia negra de Molière, 'Jorge Patego', tem muito que pensar ao longo do espectáculo que, no início do Verão, será apresentado na rua, no Largo da Copa do Hospital Termal. Patego, um camponês que enriquece e pede em casamento uma aristocrata falida, acredita que esse será o meio para a sua ascensão social. Porém, contou Mora Ramos, “acaba por levar a luta de classes para a intimidade, com a mulher insuportável e os sogros snobes a encaminharem-no para a depressão”. É também com o foco nos conflitos familiares que a companhia fecha as estreias deste ano, numa coprodução com o Teatro Nacional de S. João que levará à cena 'Na República da felicidade', de Martin Crimp.

Entre as novidades da programação deste ano o Teatro da Rainha vai iniciar um 'podcast' com leituras encenadas e desenvolver a oficina de escrita 'Quatro autores à procura da sua voz', com a participação de Manuel Portela, Elisabete Marques, Cecília Ferreira e Henrique Fialho, na escrita de textos conjuntos.

Na agenda da companhia estará ainda o 'Reality Show' de Alberto Pimenta, com destaque para os textos 'Marthiya de Abdel Hamid' - sobre a guerra do Iraque - e 'Indulgencia Plenária', sobre o assassinato da transexual brasileira Gisberta.

A par com a formação a apresentação de uma ópera em parceria com a Miso Music e uma exposição (de Yochen Bustorff), que assinala os 50 anos do 25 de Abril, a companhia mantém em 2024 o acolhimento a várias companhias e a digressão por teatros de outras cidades.

Além-fronteiras Fernando Mora Ramos irá dinamizar, em Moçambique, uma oficina intitulada 'Um corpo estranho dá ao palco'. A partir de um texto do próprio encenador, e com a participação do ator e bailarino moçambicano Samuel Nhamatete, o projecto aborda as diferenças entre a criação teatral daquele país e a europeia, aos olhos de migrantes que nunca viram os bastidores de um teatro.

A companhia, residente nas Caldas da Rainha, é apoiada pela DGArtes na modalidade quadrienal.

Texto: ALVORADA com agência Lusa