Escavações no Tholos do Barro indicam actividade funerária externa ao monumento de Torres Vedras
- Oeste
- 18/06/2022 10:32
A segunda campanha de escavações arqueológicas no Tholos do Barro, que termina hoje em Torres Vedras, permitiu identificar uma intensa actividade simbólica e funerária na parte externa do monumento, segundo a arqueóloga responsável pelos trabalhos.
A campanha, iniciada em Maio, “teve como principal objectivo a escavação integral dos vestígios de deposições funerárias feitas no corredor e a escavação da área do átrio, junto à fachada do monumento”, disse à agência Lusa a arqueóloga Ana Catarina Sousa. Essas escavações, revelou, “permitiram identificar uma intensa actividade simbólica e funerária na parte externa do monumento, incluindo a construção de um murete, que fecha parcialmente a sua entrada”.
As escavações dirigidas pela arqueóloga da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e por Isabel Luna, do Museu Municipal Leonel Trindade, em Torres Vedras, indicam que “esta estrutura poderá estar associada a um monólito de origem extrínseca ao local”, sendo que materiais recolhidos pela equipa, como cerâmicas e materiais metálicos, “parecem indicar uma cronologia da Idade do Bronze, estando ainda disponível uma datação absoluta da primeira metade do 2.º milénio a.C.”, explicou. Foi ainda confirmada “a presença de áreas de concentração de materiais na envolvente do monumento, já do Bronze Final, mas sem a conservação de qualquer material osteológico, o que indica que estas visitações não seriam já de natureza funerária”, acrescentou.
O tholos do Barro é um sepulcro colectivo do 3.º milénio a.C., descoberto no início de 1909 pelo arqueólogo francês Paul Bovier-Lapierre no Monte da Pena, no concelho de Torres Vedras, que foi sucessivamente revisitado por especialistas sobre pré-história e Megalitismo, encontrando-se os materiais recolhidos no Museu Nacional de Arqueologia e no Museu Municipal Leonel Trindade. Apesar de “sucessivamente referido e revisitado, efetivamente pouco se conhecia” sobre o monumento que nos últimos dois anos foi objecto de escavações com o objectivo de ampliar o conhecimento sobre a arquitectura e a história de ocupação do sítio, através de novas metodologias de campo.
“Não estava disponível qualquer datação de radiocarbono, não existia um levantamento arquitectónico actualizado e, sobretudo, não se compreendia a sucessão de utilizações, entre o período Calcolítico e a Idade do Bronze”, disse Ana Catarina Sousa, reforçando que a primeira campanha de reescavação, realizada em 2021, permitiu obter, pela primeira vez, “uma leitura integral das estruturas arquitectónicas e identificar a presença de deposições funerárias, muito fragmentadas, na câmara e no corredor do monumento”.
Localizado no topo de uma elevação, o Tholos do Barro destaca-se pela implantação e orientação (a Sul) “muito pouco frequente neste tipo de sepulturas”, sublinhou, explicando que a sua arquitetura corresponde aos cânones dos sepulcros de falsa cúpula da Península Ibérica, apresentando “um aparelho construtivo muito robusto, quase ciclópico, onde se destaca uma enorme câmara sepulcral [com 6,20 m de diâmetro], a maior conhecida na Península”.
Apesar de classificado como Monumento Nacional, uma pedreira destruiu parte do Monte da Pena, o que evidencia a importância das novas campanhas de escavação arqueológica, que permitem uma melhor aproximação à história, através do cruzamento da informação documental conservada em museus e arquivos, a que se juntarão os estudos analíticos da informação recolhida.
O espólio antropológico “permitirá obter informação sobre as populações aqui inumadas, ao nível da sua cronologia absoluta [radiocarbono], dietas alimentares e mobilidade [isótopos] e ancestralidade [ADN]”, enquanto os artefactos recolhidos - cerâmicas, metais e pedra lascada - permitirão, segundo a arqueóloga, “efectuar o estudo das deposições identificadas neste sepulcro e compreender melhor o espólio depositado nos museus”.
Finalmente, o estudo arquitectónico e geológico, “será relevante para melhor compreender este tipo de sepulcros, os 'últimos' monumentos megalíticos das antigas sociedades camponesas da Península Ibérica”, afirmou.
A campanha foi desenvolvida desde Maio por uma equipa que integra estudantes de licenciatura, mestrado e doutoramento em Arqueologia da Faculdade de Letras de Lisboa e vários investigadores das áreas de Antropologia Física, Geologia e Geografia.
Os trabalhos, que terminam hoje, decorreram com dias abertos à população e as conclusões servirão de base à criação de um circuito de visitação.