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Debate promovido pela Sub-Região do Oeste da Ordem dos Médicos destaca profissionais cansados e descrentes com o SNS

coloquio saude obidos

O futuro do SNS - Serviço Nacional de Saúde e o exercício da medicina fora dos grandes centros esteve em debate esta quinta-feira à noite em Óbidos, numa iniciativa promovida pela Sub-Região Oeste da Ordem dos Médicos, tendo todos os participantes concluído que os profissionais estão cansados e descrentes quanto ao futuro.

O bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, foi convidado para fazer a abertura do colóquio, que decorreu na Casa da Música, tendo alertado para a polémica em torno da revisão da legislação proposta pelo Governo para os estatutos das ordens profissionais que, segundo o responsável vai colocar em causa “a independência da instituição face ao poder político”. Uma posição acompanhada pelos médicos presentes na sala, entre os quais Álvaro Beleza, também presidente da SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, que partilhou com os presentes a mesma opinião, tendo classificado “um disparate” esta iniciativa legislativa. Bastonário há cerca de três meses, Carlos Corte enfatizou nesta sessão a “relação médico-doente como primordial para o exercício da medicina” e elogiou o papel dos médicos de família, por estarem “na linha da frente” no primeiro contacto com a população. Face ao cenário actual, não tem dúvidas de que “há uma enorme tristeza nos médicos que trabalham para o SNS e os jovens médicos não acreditam no SNS”, defendendo uma mudança urgente deste paradigma com uma política diferente do Ministério da Saúde. Tendo destacado "a importância da coesão territorial" do SNS, partilhou com os presentes a preocupação do exercício da profissão no nosso país no curto e médio prazo.

Com moderação do presidente da Sub-Região Oeste da OM, António Curado, o encontro contou com os testemunhos dos também médicos Emília Pinto (Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Óbidos) e Ivo Duarte (Unidade de Saúde Familiar Rainha Dª Leonor das Caldas da Rainha), acerca da temática ‘O médico perto das populações’. Ambos advertiram para o desinvestimento do Ministério da Saúde no sector e, também para a disparidade evidente de meios humanos e financeiros quanto ao funcionamento das UCSPP e das USF com modelo B, onde existem melhores condições remuneratórias e de trabalho para os profissionais.

O debate conta também com a intervenção da historiadora e professora universitária Raquel Varela que abordou ‘As virtudes do SNS e a universalidade dos Cuidados da Saúde’, destacando o trabalho realizado no período pós-25 de Abril, em que clínicos foram destacados para todo o país e levado a exercer uma medicina de proximidade com os serviços médicos à periferia. Contudo, face aos dias de hoje, é taxativa em relação ao SNS que considera estar doente: “é preciso dar mais autonomia, mais gestão democrática e mais formação de qualidade aos médicos e não acabar com a autoregulação em Portugal”. Já Álvaro Beleza, que enalteceu as virtudes do SNS, entende que "vivemos uma sociedade muito hipocondríaca, as pessoas dão um enorme destaque à saúde e há um medo exagerado da morte".

Presentes na sessão, os presidentes das câmaras municipais de Óbidos, Filipe Daniel, e das Caldas da Rainha, Vítor Marques, aproveitaram a ocasião para manifestar a preocupação pela falta de médicos de famílias nos respectivos centros de saúde e criticaram o Governo por não criar medidas que resolvam este problema que está a afectar gravemente as populações no acesso a cuidados de saúde.

Texto: ALVORADA
Fotografia: Paulo Ribeiro/ALVORADA