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Morte de 44 botos entre Caminha e Peniche leva cientistas a alertar para defesa da espécie

mar agitado II

Investigadores da Universidade de Aveiro lançaram hoje um alerta para a necessidade de proteger o boto, um mamífero marinho classificado como “criticamente em perigo”, havendo já registo de 44 botos mortos no Norte este ano. De acordo com uma informação divulgada pela Universidade de Aveiro (UA), foram registados 44 botos mortos, desde o início do ano, pela rede de arrojamentos do Norte, sendo a captura acidental por artes de pesca a principal causa. “Este valor, para o primeiro semestre de 2023, é já o mais elevado de todos os valores anuais de botos mortos, desde que há registo de arrojamentos de mamíferos marinhos em Portugal Continental”, salienta a informação da UA.

Segundo a informação da UA, várias entidades internacionais alertaram em anos anteriores para a necessidade de acções imediatas que reduzam a captura acidental de boto em águas da Península Ibérica, mas “nenhuma medida foi implementada em Portugal”.

Os investigadores dão conta de que, este ano, grande parte dos arrojamentos de boto têm ocorrido numa área marinha protegida pertencente à rede NATURA 2000 (Sítio Maceda-Praia da Vieira), “fortemente utilizada pelo sector das pescas, o que aumenta a probabilidade de interacção com o boto, um mamífero marinho com hábitos costeiros”.

O boto é um mamífero marinho cuja população está classificada como 'Criticamente em Perigo' no Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal. Já havia sido descrito como estando em 'Mau Estado de Conservação' e em decréscimo no relatório mais recente do artigo 17.º da Diretiva Habitats, submetido por Portugal à Comissão Europeia.

Além da mortalidade resultante das capturas acidentais, os cientistas temem que as actividades associadas às energias renováveis em meio marinho possam levar à redistribuição não só das populações de mamíferos marinhos, mas também à redistribuição das actividades mais tradicionais, como a pesca. “Essa redistribuição levará a uma maior concentração da pesca costeira em áreas de grande importância ecológica para o boto, aumentando as probabilidades de interacção e captura acidental”, dizem.

Consideram que “a monitorização continuada da abundância das populações de mamíferos marinhos em Portugal é fundamental para o cumprimento das metas internacionais, relativas à conservação da biodiversidade autóctone, ao desenvolvimento sustentável e ao restauro da natureza”.

A Rede de Arrojamentos do Norte, que actua entre Caminha (Viana do Castelo) e Peniche (Leiria), opera a partir do Centro de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos (ECOMARE) e engloba investigadores e elementos do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), um laboratório associado com sede na Universidade de Aveiro, e da Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem (SPVS).

Texto: ALVORADA com agência Lusa
Fotografia: Paulo Ribeiro/ALVORADA (arquivo)