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Ocupadas 1.836 das 2.242 vagas do concurso para formação de médicos especialistas

Medicos

O concurso para a formação de médicos especialistas terminou no sábado com 1.836 das 2.242 vagas preenchidas, anunciou hoje a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), assumindo preocupação com a diminuição das escolhas em Medicina Interna. O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) apontou os exemplos da medicina geral e familiar (médicos de família), da medicina interna, da saúde pública e da patologia clínica, na região de Lisboa e Vale do Tejo (que inclui a região Oeste), ficaram por preencher 178 vagas.

Em comunicado, a ACSS destaca que “em 33 das 48 especialidades foram ocupadas 100% das vagas a concurso”, que “em 22 dessas especialidades foi registado o maior número de colocados de sempre” e que as 10 vagas do plano especial de formação para as zonas de baixa densidade foram “ocupadas na totalidade”. Por outro lado, reconhece como “motivo de preocupação” a diminuição das escolhas pela especialidade de Medicina Interna, onde foram ocupadas apenas 104 das 248 vagas a concurso, sendo que este número foi “só parcialmente compensado pela admissão de 68 candidatos na especialidade de Medicina Intensiva”. “Tratando-se de uma especialidade nuclear para o funcionamento das unidades hospitalares, o Ministério da Saúde desenvolverá, em conjunto com as instituições do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e em colaboração com a Ordem dos Médicos, uma análise sobre as razões que levam a uma menor preferência por esta especialidade”, enfatiza.

Segundo a ACSS, as 1.836 vagas ocupadas no processo de escolhas para a área de especialização do Internato Médico de 2023 foram ocupadas por 80% dos candidatos que reuniam as condições necessárias. “No ano anterior foi colocado um número ligeiramente superior de médicos, 1.883, mas que correspondiam a uma percentagem menor dos candidatos, 79%”, detalha. Em 33 das 48 especialidades foram ocupadas 100% das vagas a concurso, sendo que em 22 dessas especialidades foi registado “o maior número de colocados de sempre”, nomeadamente em “especialidades onde as carências se têm manifestado de forma intensa”, como Pediatria (110), Anestesiologia (97), Cirurgia Geral (85), Psiquiatria (82), Ginecologia-Obstetrícia (67), Ortopedia (62) e Cardiologia (45), precisa.

De acordo com a ACSS, este processo de escolha resultou ainda na colocação de mais 453 médicos internos na formação especializada de Medicina Geral e Familiar e mais 37 médicos internos na formação especializada de Saúde Pública, “permitindo o reforço dos cuidados de saúde primários”. Ainda destacada pela tutela é a colocação de 83% dos 1.833 candidatos a frequentar o Programa da Formação Geral do Internato Médico e os “240 jovens médicos que não haviam escolhido uma vaga na formação especializada em anos anteriores [e] que optaram, neste processo, por se integrar na formação especializada e escolher uma das vagas disponíveis”. Quanto às 10 vagas do plano especial e individualizado de formação estabelecido pela unidade hospitalar em colaboração com a Ordem dos Médicos/Colégio de Especialidade e com os órgãos do Internato Médico, fixadas pelo Ministério da Saúde em serviços de territórios de baixa densidade, foram totalmente ocupadas.

Segundo destaca a ACSS, “este processo inovador é uma das prioridades do Ministério da Saúde para garantir a sustentabilidade dos cuidados prestados nessas unidades de saúde”. Também referido é o facto de 28 especialidades registarem um aumento do número de colocados face ao concurso do ano passado, destacando-se Cirurgia Geral (+14), Ginecologia-Obstetrícia (+14), Anestesiologia (+13), Psiquiatria (+10), Ortopedia (+10), Pediatria (+8) e Cardiologia (+8).

A formação de médicos especialistas terá início em Janeiro de 2024 e tem como objectivo habilitar o médico ao exercício tecnicamente diferenciado numa das 48 áreas de especialização. A ACSS destaca que o concurso contou este ano com “o maior mapa de vagas de sempre” (2.242).

Sindicato dos médicos diz que 419 vagas para especialidades ficaram por preencher

Mais de 400 vagas ficaram por preencher no concurso para a escolha de especialidades, denunciou hoje o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), um resultado que considerou ser uma “hecatombe” para o Serviço Nacional de Saúde. “As escolhas para as especialidades terminaram e, dos 2.330 candidatos, houve 501 que decidiram não escolher qualquer vaga, tendo sobrado 419 vagas”, adiantou o SIM em comunicado. De acordo com o sindicato liderado por Roque da Cunha, em 2021 tinham ficado por preencher 51 vagas para o internato médico, um número que aumentou para as 161 em 2022. “A previsível e anunciada hecatombe aconteceu”, salientou o SIM, um dos dois sindicatos envolvidos nas negociações com o Governo para a valorização da carreira e das tabelas salariais dos médicos que decorrem há vários meses, com dezenas de reuniões a terminarem sem acordo.

De acordo com os dados divulgados pelo SIM, as vagas não escolhidas pelos novos médicos representam 18,2% do total de lugares colocados a concurso e, em algumas especialidades, atingem “números nunca vistos”. O sindicato apontou os exemplos da medicina geral e familiar (médicos de família), da medicina interna, da saúde pública e da patologia clínica e adiantou que, na região de Lisboa e Vale do Tejo, ficaram por preencher 178 vagas. “Por aqui se vê a atratividade que tem o trabalhar no Serviço Nacional de Saúde, numa altura em que todos os recursos humanos médicos deveriam ser aproveitados”, lamentou a estrutura sindical.

FNAM preocupada com vagas por preencher no internato médico e desistência preococe do SNS

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) manifestou-se hoje "muito preocupada" com o número de vagas por preencher no internato médico, considerando que compromete a formação de especialistas e revela desistência precoce do Serviço Nacional de Saúde (SNS). “É com muita preocupação mesmo que se vê esta quantidade de vagas que sobram e sem dúvida que o Ministério da Saúde na terça-feira também deveria ter isto em conta. Não é só o facto de termos serviços de urgência encerrados de norte a sul do país, vias verdes coronárias encerradas, que deixa a população para trás, é mesmo o facto de 20% dos jovens médicos desistirem do SNS”, disse à Lusa Joana Bordalo e Sá, presidente da FNAM.

Sobre o total de vagas por preencher, Joana Bordalo e Sá referiu que “21,2% dos candidatos optarem por não escolher uma vaga no SNS significa que desistem, numa fase tão precoce, do SNS”, sublinhando os números relativos a Lisboa e Vale do Tejo, onde ficaram 168 vagas por preencher, o que “provavelmente também reflecte o elevado custo de vida nessa zona, sobretudo em Lisboa.

A presidente da FNAM olha com preocupação para o total de vagas sobrante em Medicina Geral e Familiar, que foram médicos de família, uma das grandes carências do país, mas também em Medicina Interna, que a ACSS reconheceu em comunicado como “uma especialidade nuclear para o funcionamento das unidades hospitalares”, motivo pela qual vai analisar a quebra de interesse na especialidade.

Joana Bordalo e Sá frisou que a nível nacional 60% das vagas em Medicina Interna ficaram por preencher, com 144 vagas vazias, considerando “também preocupante que os dois grandes centros hospitalares de Lisboa - Lisboa Central e Lisboa Norte - só tenham tido duas vagas de Medicina Interna ocupadas”. “No fundo, tudo isto demonstra a desesperança dos jovens médicos que acabam por não iniciar o internato médico no SNS. Isto é fruto da degradação das condições de trabalho também no SNS e é preciso dar nota que os médicos internos não são meros estagiários, são médicos e como tal têm uma grande responsabilidade nas suas mãos, a vida dos doentes nas suas mãos e representam neste momento um terço da força de trabalho no SNS”, disse.

A presidente da FNAM referiu que, actualmente, os médicos internos “passam a vida a tapar buracos”, substituindo especialistas nos serviços de urgência, o que por sua vez contribui para o desinteresse no internato médico no SNS, frisou. “Faltam médicos especialistas, isto vai ter repercussões depois nos médicos internos, porque os médicos internos são formados por especialistas”, disse. “A FNAM sempre defendeu que o internato médico deve ser reintegrado na carreira, exatamente porque os médicos internos são um terço da força de trabalho no SNS e deve ser o primeiro patamar da carreira, para que os jovens médicos possam estar protegidos e para que se consiga garantir uma formação mesmo de qualidade”, acrescentou. Para Joana Bordalo e Sá, que olha com preocupação para o número de jovens médicos que vão optar por emigrar e fazer a especialidade no estrangeiro e para os que vão preferir ser prestadores de serviços, a resposta é só uma: “é preciso melhorar as condições de trabalho no SNS, não há outra maneira”.

Os sindicatos dos médicos e o Governo voltam a reunir-se na terça-feira, véspera da votação final do Orçamento do Estado para 2024, para tentar alcançar um acordo no âmbito de negociações que decorrem há 19 meses.

Texto: ALVORADA com agência Lusa
Fotografia: Direitos Reservados (arquivo)